Vol. 22/3 (setembro, outubro, novembro, dezembro/2020
Tema: Livre

Prazo de recepção: 16/01/2020 a 15/05/2020

Vol. 23/1 (janeiro, fevereiro, março, abril/2021)
Tema: Habitar a terra: poesia e latino-americanidade

A terra, como habitá-la? Como cuidar o comum? Essas questões, urgentes, envolvem discursos e práticas econômicas, políticas e culturais. A poesia contemporânea de modo geral, e a poesia latino-americana em particular, parecem encenar uma disposição para encarar essas perguntas de diversos modos, às vezes temática, às vezes enunciativamente, sempre como um desafio ético. Embora a relação poesia e natureza, ou poesia e terra, não seja nova, podemos identificar uma retomada da atenção crítica e filosófica e esses temas. São assim colocadas em jogo noções como as de comunidade, povo, nacionalidade e latino-americanidade; e, junto com elas, distinções hierarquizantes como as que separam práticas primitivas e civilizadas – todas estabelecidas em nome da visão moderna de historicidade, linear e progressista. Do mesmo modo, e ainda no âmbito dos efeitos de releitura das relações entre natureza e cultura, podem ser repensadas as formas de interação entre o humano e outras formas de vida. Daí decorre também a possibilidade de novos modos de interação entre arte e filosofia, performatividade e reflexividade, assim como entre os estudos sobre poesia e disciplinas como a antropologia, a etnologia, a geografia, a biologia ou a botânica. Em tais abordagens podem se inscrever desde releituras da figuração tradicional da terra natal, do lócus latino-americano exotizante e suas reformulações, até a análise de procedimentos de desterritorialização, nos modos de dizer e nos modos de fazer, aquém ou além de fronteiras convencionalizadas. Esta chamada convida pesquisadores das diversas áreas das ciências humanas e da literatura a se debruçar sobre essas questões, importantes para a história da poesia, mas também para pensar seu estatuto hoje, assim como questões que implicam na problematização de limites identitários. Nossa proposta pretende acolher, então, intervenções poéticas, críticas e teóricas sobre essas questões, que marcam a nossa contemporaneidade e implicam uma experiência de emergência, de crise e de busca por uma alternativa ecológica para nossos corpos, modos de vida e de pensamento.

Editores Convidados: 

Celia Pedrosa (UFF)

Luciana di Leone (UFRJ)

Claudia Sampaio (Universidad Nacional Autónoma de México- UNAM)

Prazo de recepção: 16/05/2020 a 15/09/2020

Vol. 23/2 (maio, junho, julho, agosto/2021)
Tema: Literatura e práticas translíngues

As línguas estão repletas de espaços transicionais, zonas de indiscernibilidade, camadas dialógicas. Nesse sentido, pensar, no âmbito da literatura, formas de interface entre línguas, variedades linguísticas, discursividades e estratégias enunciativas diversas é refletir sobre o processo de produção, leitura e circulação do literário a partir de uma ótica atenta aos contatos linguístico-culturais. Mas se, por um lado, essa heterogeneidade configura a própria dimensão constitutiva da linguagem, por outro, pode-se perceber que diferentes práticas translíngues vêm sendo apropriadas – estética, política e culturalmente – como signos de desestabilização tanto das tradições nacionais, quanto das concepções homogeneizantes, logocêntricas e autonômicas de escrita literária, representação e subjetividade. Tais atravessamentos contínuos entre línguas/culturas podem ser analisados em qualquer momento histórico, embora seja importante destacar que o século XX e também este início do século XXI são períodos intensamente marcados por deslocamentos e migrações ao redor do mundo, devido a guerras, perseguições étnico-religiosas, ditaduras e regimes totalitários, violência, miséria, desigualdade social, dentre outros fatores. Dessa maneira, propomos reunir, neste número da Alea, em torno da ideia de práticas translíngues, artigos que tenham como recorte diferentes contextos espaço-temporais e que partam não só da noção de translinguismo, mas também de distintos lugares teóricos, tais como as noções de heterolinguismo, extraterritorialidade, transárea, hibridismos, deslocamentos linguísticos, relações transatlânticas, interamericanas etc. Lançamos também as seguintes indagações, com o intuito não de limitar, mas apenas de mobilizar possíveis caminhos de reflexão: De que forma textos marcados por práticas translíngues foram (ou vêm sendo) incorporados ou silenciados no âmbito da formação dos cânones literários? Que tipo de impacto vem tendo a autoria de escritores imigrantes, de famílias de imigrantes, em situação de diáspora, expatriados, exilados ou refugiados em distintos contextos de produção e campos crítico-historiográficos? Como se dão esses movimentos de apropriação e trânsitos idiomáticos na obra de escritores não-emigrantes, bem como em autores que escrevem a partir do locus da fronteira ou de comunidades diglóssicas? De que modo os estudos de tradução podem contribuir para a reflexão em torno das práticas translíngues? Qual é a produtividade de se refletir, na esfera dos estudos literários e dos estudos culturais, a respeito dos processos de correlação entre línguas (maternas/estrangeiras; oficiais/minoritárias; coloniais/autóctones)? Que possíveis diálogos poderiam ser travados entre os campos de discussão sobre políticas literárias e glotopolítica a partir das práticas translíngues na literatura? 

Editores convidados:

Antonio Andrade (UFRJ)

Pablo Gasparini (USP)

Prazo de recepção: 16/09/2020 a 15/01/2021

Vol. 23/3 (setembro, outubro, novembro, dezembro/2021)
Tema: César Aira: autoria, crítica e tradução

Conhecido pela defesa do uso do procedimento enquanto valor literário, o que também quer dizer, por colocar o processo de escrita num lugar de maior importância do que o produto final, a obra de César Aira é estudada em todos os circuitos acadêmicos e literários pelo uso de elementos trash, pela aceleração da temporalidade do relato, pela autorreflexividade e, nos últimos anos, pela trabalho com a autoficção. Sandra Contreras (Las vueltas de César Aira, 2001, p. 11) aponta para a centralidade da categoria de procedimento em Aira, não só para a sua literatura, mas para o modo como lê os autores aos quais se dedica: “[Em seus ensaios] sempre se trata de captar e de interpretar o procedimento, ou o processo em si, que define uma obra, um gênero, um movimento literário.” É de César Aira também a defesa do escritor enquanto mito literário que faz existir o livro. Alan Pauls (Temas Lentos, 2012, p. 169), a partir da constatação de que “se há uma obra de César Aira, ela tem a forma, a natureza, o modo de apresentação escorregadio de um delta ou de um arquipélago”, se pergunta: “Que imagem de escritor se pode deduzir dessa estranha compulsão à ubiquidade? A de um autor de culto? Um autor para consumidores selvagens de histórias? Um autor para vanguardistas? Um autor para aprendizes de escritores?” Essa enumeração de possíveis facetas tem por base a profusão de livros e temas do autor e suas numerosas inovações que contrastam com qualquer tentativa de consolidação do estatuto do literário. Nesse sentido, produz inquietantes reflexões sobre a tábua de conceitos que sustenta o que se convencionou chamar de contemporâneo, concebendo mesmo a literatura na sua aspiração a tornar-se “arte contemporânea”, como aponta a instigante reflexão de Reinaldo Laddaga em Espectáculos de realidade (2007). No presente número de Alea, esperamos receber contribuições que explorem a produção de César Aira, como autor, tradutor, crítico e figura intelectual que intervém no cenário contemporâneo pelo menos há quatro décadas.

Editores convidados:

Ieda Magri (UERJ)

Luciene Azevedo (UFBA)

Cristian Molina (Universidade Nacional de Rosario- UNR)

Prazo de recepção: 16/01/2021 a 15/05/2021